sexta-feira, setembro 25, 2009

Chega de alarde!

Chega de alarde! Decisão do STF não é o fim dos jornalistas com
diploma nas redações.
Alessandra Lessa [*]

Ao por fim à exigência de formação superior para o exercício do
jornalismo no Brasil, o Supremo Tribunal Federal (STF) acabou com a
reserva de mercado? Além dos graduados em comunicação social, que
outro profissional preferiria dedicar-se à atividade de imprensa ao
invés de ater-se à sua formação e poder, com ela, obter lucratividade
e satisfação bem maior do que aquela auferida por repórteres de
jornais?
Eu, que me graduei em direito e jornalismo, vivo me questionando sobre
quem daqueles que se formaram comigo no curso de ciências jurídicas
toparia trabalhar incansavelmente em troca de um piso salarial que
a depender da região em que o jornal está instalado paga a
repórteres pouco mais que 800 reais por mês. Na área jurídica, algumas
vezes, esse é o salário de um estagiário.
Talvez os outros bacharéis das ciências humanas gostariam de se
aventurar nesta lida, por pura vontade ideológica, mas, ao perceberem
que nas redações a veiculação dos textos depende da ideologia do dono
do veículo, talvez, preferissem exercer a verve jornalística em blogs
na internet, totalmente abertos à opinião e avessos à censura prévia.
Já os profissionais que durante a graduação tiveram pouco ou nenhum
contato com a língua portuguesa, nem com assuntos de natureza
político-social, encontrariam difíceis barreiras para se adequarem aos
requisitos da atividade jornalística, optando, sem dúvida alguma, por
publicar artigos científicos ou colunas como colaboradores.
Até mesmo alguns jornalistas de formação acadêmica querem mudar de
profissão. Não é raro encontrar colegas graduados em Jornalismo -
gente que já deixou de ser foca (jargão usado para denominar aqueles
que se iniciam na carreira) - frustrados por não conseguirem alcançar
nenhum dos objetivos que a profissão se propõe a realizar.
Como as redações de jornais estão esvaziadas de talento e criatividade
o que, do ponto de vista dos proprietários, pode até justificar os
baixos salários - os jornalistas são pagos para fazer notícias que
apenas narram os fatos sem desdobramentos. A ausência do jornalismo
investigativo e da reportagem mina o ânimo dos profissionais que
assistem ser usurpada a função social do seu trabalho.
Em Brasília, reduto dos escritórios políticos e assessorias de
imprensa, jornalista que se dá bem não é aquele que trabalha para os
grandes jornais do País, e sim, o que ingressa na carreira como
assessor de órgãos administrativos, para ganhar salários que variam
entre cinco mil e 40 mil reais.
Do lado de quem defende a exigência do diploma para o exercício do
jornalismo, é ingênuo dizer, como o fez o presidente da Federação
Nacional dos Jornalistas (Fenaj) Sérgio Murillo, que a decisão do
Supremo substitui a valorização do mérito pessoal de se procurar por
uma escola de jornalismo (...) pela vontade do patrão, que vai
decidir com base num talentômetro quem pode, ou não, ser jornalista.
Ora, mesmo sendo obrigatória a exigência do diploma, caberia ao dono
do jornal dizer quem sai e quem fica. Não é a toa que grandes
repórteres - que poderiam muito bem trabalhar em jornais de extensa
circulação - fundam seus próprios espaços de mídia para contrariarem a
estrutura de poder vigente nas redações.
Já a opinião de quem entende não ser necessária a formação em
jornalismo abre lacunas que precisam ser preenchidas para o regular
exercício da profissão e atendimento ao interesse público. Em que fase
da formação de um advogado caberia inserir técnicas de reportagem que
lhe ensinassem a ética que um bom repórter deve perseguir
cotidianamente? Quem seria responsável por dar aos profissionais não
oriundos da comunicação social um direcionamento sobre funções básicas
da profissão? A quem caberia ensinar ao fisioterapeuta ou ao
secundarista-repórter como escrever, como segurar o microfone, como
abordar entrevistados, como analisar discursos, entre outras
atividades prático-teóricas que hoje compõem o currículo dos cursos de
graduação de jornalismo?
Com a decisão do STF, o debate sobre a necessidade do diploma para o
exercício da atividade de imprensa não morreu. Mas precisa seguir
outros rumos.
Até agora, a única instituição capaz de formatar um projeto de
imprensa que seguisse uma orientação ético-profissional foi a
universidade.
A partir desta decisão judicial, outras vozes devem se propor a
orientar o candidato a jornalista sobre os limites a que deve se ater
para o não ferimento dos demais princípios constitucionais que, ao
lado da liberdade de expressão, configuram o maior orgulho de uma
sociedade democrática. A meu ver, bem ou mal, com acertos e erros, é a
universidade que continuará dando conta do recado.

[*] Alessandra Lessa é Graduada em Jornalismo e Direito pela
Universidade Católica de Goiás, Diretora do Jornal Tribuna
Universitária e do Jornal da Imprensa. Articulista Colaboradora da ABN
NEWS

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