sexta-feira, maio 11, 2012

PONTO FINAL - O seu programa de todas as Sextas-Feiras

BOA NOITE mais um programa PONTO FINAL

Coube a Robespierre definir o julgamento político como legítima defesa das sociedades nacionais.

Ao defender o julgamento de Luís 16, que condenaria o rei à morte, e lhe dar toda a legitimidade, o líder revolucionário explicou que o poder legislativo, a Convenção Nacional, não atuava como um tribunal comum.

Atuava como um corpo político da nação. Se o rei fosse inocente, culpados seriam os 387 deputados que haviam votado pela morte do soberano.

Como constituíssem a maioria dos delegados do povo, culpada seria a nação francesa. Sendo um julgamento político, a sentença condenatória era um ato de defesa da pátria contra aquele que ela identificara como inimigo.

Ao defender antes de se iniciar o julgamento, a atuação dos convencionais, disse: “não se trata de um processo, mas medida de segurança pública, ato de providência nacional a ser exercido. Luis deve morrer, para que a pátria viva”.

A Revolução Francesa foi um dos momentos mais fortes do homem. Nele houve de tudo, na grandeza e na traição, na força demolidora e construtora das idéias, no avanço republicano da liberdade, com a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão – e na contra-revolução termidoriana, no surgimento de Napoleão, na Santa Aliança, na derrota de Waterloo, na restauração monárquica.

A direita sempre a desdenha. Em 1934, pouco antes que Hitler o matasse, a fim de eliminar um provável inimigo, Ernst Roehm diria que a nova ordem do nazismo iria eliminar os efeitos da Revolução Francesa na História.

As grandes revoluções iludem os que dela são contemporâneos. Elas só são avaliadas muito depois.
Uma tese histórica coerente é a de que estamos sempre em uma revolução, com momentos mais agudos e menos agudos e eventuais pausas de pasmaceira.

Nem todos nos damos conta de que vivemos, nestes dias, no Brasil e no mundo, uma situação revolucionária, mas desprovida de grandes líderes.

Os estados nacionais mínguam.
O poder financeiro, astuto, passou a dirigi-los, mediante o controle dos parlamentos – mas como foi com muita sede ao pote, encontrou a resistência, ainda desorganizada, dos cidadãos.
É nesse quadro que, no Brasil, se iniciam os trabalhos da CPI destinada a desemaranhar a teia enovelada do governo paralelo do empresário Carlos Cachoeira.

O Parlamento se encontra em situação parecida à da Convenção Nacional nos últimos meses de 1792.

Para que a Revolução se salvasse, em seus efeitos históricos, era necessário que o rei morresse.

Para que a República se salve e, com ela, o povo brasileiro, é necessário que a CPI vá às últimas conseqüências.

A nação está clamando por uma devassa, não para que se erga, em alguma praça, a máquina do doutor Guillotin.

Ao contrário do que muitos pensam, não é preciso que o sangue lave a honra das nações. Mas os ladrões do Erário, que roubam dos que trabalham e produzem, devem ser conhecidos e levados aos tribunais.

Não se trata de conflito ideológico, mas de ato de legítima defesa nacional. Os que roubam, ao subtrair os bens comuns, contribuem para que o estado republicano desmorone e, com ele, a nação.

Desmorone nos hospitais precários, que não salvam vidas e, frequentemente, apressam a morte; desmorone nas escolas públicas em que as crianças não aprendem, mas se expõem aos perigos, que vão das humilhações à tortura, cometidas pelos fortes contra os fracos, quando não aos massacres; desmorone nos serviços de segurança, dos quais surgem esquadrões da morte e milicianos quadrilheiros.

Nesta visão, correta e ampla, dos efeitos da corrupção, os corruptos não são apenas larápios: São, da mesma forma, bandidos e assassinos.

Uma coisa é o financiamento de campanhas políticas pelos empresários, outra o enriquecimento de agentes públicos, mediante as promíscuas relações, nas quais se superfaturam obras públicas e serviços, para a divisão do butim entre os parceiros.
O que todos os cidadãos conscientes exigem é o financiamento público das campanhas, a fim de evitar essa poluição do sistema democrático.

O rigor nas investigações atinja a quem atingir, é ato de legítima defesa do sistema republicano e, particularmente, do poder legislativo.

Há, crescente, na opinião pública – a partir das informações que recebe - o equivocado juízo de que os senadores e deputados são inúteis. Se essa CPI se frustrar, os cidadãos podem supor que os parlamentares não são apenas inúteis, mas também complacentes com os seus pares aquadrilhados, como os representantes de Goiás fisgados pela língua, entre eles esse comediante menor, o senador Demóstenes Torres, que fez, durante tanto tempo, o papel de Catão.

Devemos entender que a maioria parlamentar não é feita de bandoleiros, embora possa ter sua parcela de incompetentes.

Espera-se que, na CPI, os homens de bem sejam tão ousados como costumam ser os canalhas - e os vencer - para lembrar a constatação de Disraeli sobre a Inglaterra de seu tempo.

Hoje, provavelmente, o grande conservador não teria o mesmo juízo dos homens de bem ingleses, acoelhados diante do atrevimento dos camerons e blaires contemporâneos.
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Cadê a VEJA !!!

Outro "paladino da ética" metido em esquema ilícito milionário

Demóstenes e Agripino Maia, de mãos dadas, em um mergulho perigoso no sub-mundo da política.
Senador expulsou Arruda e forçou afastamento de Demóstenes do DEM, caso se confirme grave denúncia, quem expulsará Agripino?

Testemunha acusa Agripino Maia de receber propina

Há pouco mais de um mês, em 2 de abril, um grupo de seis jovens promotores de Justiça do Ministério Público do Rio Grande do Norte organizou uma sessão secreta para ouvir um lobista de São José do Rio Preto (SP), Alcides Fernandes Barbosa, ansioso por um acordo que o tirasse da cadeia.

Ele foi preso com outras nove pessoas, em 24 de novembro de 2011, durante a Operação Sinal Fechado, que teve como alvo a atuação do Consórcio Inspar, montado por empresários e políticos locais com a intenção de dominar o serviço de inspeção veicular no estado por 20 anos.

A quadrilha pretendia faturar cerca de 1 bilhão de reais com o negócio. Revelado, agora, em primeira mão, por CartaCapital, o depoimento de Barbosa aponta a participação do senador Agripino Maia, presidente do DEM, acusado de receber 1 milhão de reais do esquema.

O depoimento de Barbosa durou 11 horas e reforçou muitas das teses levantadas pelos promotores sobre a participação de políticos no bando montado pelo advogado George Olímpio, apontado como líder da quadrilha, ainda hoje preso em Natal.

De acordo com trechos da delação, gravada em vídeo, Barbosa afirma ter sido chamado, no fim de 2010, para um coquetel na casa do senador Agripino Maia, segundo disse aos promotores, para conhecer pessoalmente o presidente do DEM.

O convite foi feito por João Faustino Neto, ex-deputado, ex-senador e atual suplente de Agripino Maia no Senado Federal.

Segundo o lobista, ele só foi chamado ao encontro por conta da ausência inesperada de outros dois paulistas, um identificado por ele como o atual senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) e o outro apenas como “Clóvis” – provavelmente, de acordo com o MP, o também tucano Clóvis Carvalho, ex-ministro da Casa Civil do governo Fernando Henrique Cardoso.

Apontado como um dos principais articuladores do esquema criminoso no estado, Faustino Neto foi subchefe da Casa Civil do governo de São Paulo durante a gestão do tucano José Serra. Na época, era subordinado a Aloysio Nunes Ferreira.

De acordo com os promotores, o papel de Barbosa na quadrilha era evitar que a Controlar, uma empresa com contratos na prefeitura de São Paulo, participasse da licitação que resultou na escolha do Consórcio Inspar.

Em conversas telefônicas interceptadas com autorização da Justiça potiguar, Barbosa revela ter ligado para o prefeito Gilberto Kassab (PSD), em 25 de maio de 2011, quando se identificou como responsável pela concessão da inspeção veicular no Rio Grande do Norte.

Aos interlocutores, o lobista garantiu ter falado com o prefeito paulistano e conseguido evitar a entrada da Controlar na concorrência aberta pelo Detran local. Em um dos telefonemas, afirma ter tido uma conversa “muito boa”.

Embora não se saiba o que isso significa exatamente, os promotores desconfiam das razões desse êxito.

Apenas em propinas, o MP calcula que a quadrilha gastou nos últimos dois anos, cerca de 3,5 milhões de reais.

Aos promotores, Alcides Barbosa revelou que foi levado ao “sótão” do apartamento do senador Agripino Maia, em Natal, onde garante ter presenciado o advogado Olímpio negociar com o senador apoio financeiro à campanha de 2010.

Na presença de Faustino Neto e Barbosa, diz o lobista, George prometeu 1 milhão de reais para o presidente do DEM. O pagamento, segundo o combinado, seria feito em quatro cheques do Banco do Brasil, cada qual no valor de 250 mil reais, a ficarem sob a guarda de um homem de confiança de Agripino Maia, o ex-senador José Bezerra Júnior, conhecido por “Ximbica”.

De acordo com Barbosa, Agripino Maia queria o dinheiro na hora, mas Olímpio afirmou que só poderia iniciar o pagamento das parcelas a partir de janeiro de 2012.

O depoimento reforça outro, do empreiteiro potiguar José Gilmar de Carvalho Lopes, dono da construtora Montana e, por isso mesmo, conhecido por Gilmar da Montana.

Preso em novembro de 2011, o empreiteiro prestou depoimento ao Ministério Público e revelou que o tal repasse de 1 milhão de reais de Olímpio para Agripino Maia era “fruto do desvio de recursos públicos” do Detran do Rio Grande do Norte.

O empresário contou história semelhante à de Barbosa. Segundo ele, Olímpio deu o dinheiro “de forma parcelada” na campanha eleitoral de 2010 a Carlos Augusto Rosado, marido da governadora Rosalba Ciarlini (DEM), e para o senador Agripino Maia.

E mais: a doação foi acertada “no sótão do apartamento de José Agripino Maia em Morro Branco (bairro nobre de Natal)”.

Com base em ambos os depoimentos, o Ministério Público do Rio Grande do Norte decidiu encaminhar o assunto à Procuradoria Geral da República, pelo fato de Agripino Maia e ser senador da República, tem direito a foro privilegiado.

Lá, o procurador-geral Roberto Gurgel irá decidir se uma investigação será aberta ou não.

Procurado por CartaCapital, o senador Agripino Maia negou todas as acusações. Afirma que nunca houve o referido coquetel no apartamento dele, muito menos repasse de 1 milhão de reais das mãos da quadrilha para sua campanha eleitoral, em 2010.

Negou até possuir um sótão em casa. “Sótão é aquela coisinha que a gente sobe por uma escadinha. No meu apartamento eu tenho é uma cobertura”, explicou.

Agripino Maia afirma ser vítima de uma armação de adversários políticos e se apóia em outro depoimento de Gilmar da Montana, onde ela nega ter participado do coquetel na casa do senador.

De fato, dias depois de o depoimento do empreiteiro ter vazado na mídia, no final de março passado, o advogado José Luiz Carlos de Lima, contratado posteriormente à prisão de Gilmar da Montana, apareceu com outra versão. Segundo Lima, houve “distorções” das declarações do empresário.

De acordo com o advogado, o depoimento de Montana, prestado a dois promotores e uma advogada dentro do Ministério Público, ocorreu em condições “de absoluto estresse emocional e debilidade física” do acusado, que estaria sob efeito de remédios tranquilizantes.

No MP potiguar, a versão não é levada a sério.

Leandro Forte / Carta Capital
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Talvez esses remédios tranquilizantes também tenham sido fornecidos pelo laboratório VITALPLAN

A prefeitura do Rio de Janeiro comprou mais de R$ 1 milhão em medicamentos da indústria farmacêutica Vitapan, no ano passado e, no em 2010, as compras da prefeitura do Rio neste laboratório ficaram em R$ 400 mil.
A Vitapan, segundo levantou o deputado Anthony Garotinho (PR-RJ), pertence a Andreia Aprígio, ex-mulher do bicheiro Carlos August Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que teria permanecido com a empresa mesmo depois da recente separação.

“Além disso, Marco Aurélio Limírio, irmão do novo dono do Hotel Nacional, já foi sócio da Vitapan. A empresa de medicamentos genéricos era a mais vistosa fonte de recursos legais de Cachoeira. Mesmo depois da separação, o contraventor continuou despachando dali”, afirma o parlamentar, em seu blog na internet.

Mas vejam os elos que se entrelaçam. Andréia, a ex do contraventor, também se tornou sócia, no lugar de Cachoeira, do ICF – Instituto de Controle de Fármacos.

Ali, outro sócio é o empresário Marcelo Limírio (o novo dono do Hotel Nacional), por sua vez sócio do senador Demóstenes Torres na Nova Faculdade, em Contagem (MG). O ICF é a empresa encarregada de dar a primeira certificação de qualidade aos medicamentos genéricos produzidos em Goiás.

Pelo conteúdo até aqui divulgado dos grampos feitos pela PF, já se sabe que Demóstenes costumava fazer pesadas gestões na Anvisa – Agência Nacional de Vigilância Sanitária –, em favor da Vitapan. Ou seja: Cachoeira fabrica, indiretamente, pela Vitapan; obtém certificação no ICF; e ainda faz lobby na Anvisa por meio de Demóstenes”, escreveu o ex-governador fluminense.

Ainda segundo Garotinho, “o megaempresário Marcelo Limírio, que é sogro do secretário da Indústria e Comércio de Goiás, é uma potência econômica e financeira.

Vendeu a Neoquímica, laboratório de medicamentos, para o grupo Hypermarcas, mas ficou com parte na sociedade.

Construiu uma universidade em Minas Gerais, comprou o Hotel Nacional, no Rio, com uma mãozinha de Eduardo Paes, e adquiriu, com alguns sócios, uma gigantesca fazenda em Wagner Canhedo, no norte goiano”.

Pelo visto ta todo o mundo enrolado, temos que constituir uma nova república.
Já já, no próximo bloco.
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Cachoeiras do Capitalismo
Carlos Cachoeira é um dos “cavalheiros” da Távola Redonda do capitalismo e daí?
O resto?
O próprio jornal O GLOBO – parte de qualquer esquema de corrupção que existir aqui e além mar – afirma que a Norberto Odebrecht deve “herdar” as obras da DELTA e isso seria um “alívio” para todo mundo.

Todo mundo quem?

Como é que funciona esse trem de “herdar” obras, o que vai rolar por baixo dos panos na transação DELTA/Odebrecht?
A DELTA vai entregar as obras assim sem mais nem menos?

Vai ser vendida, como vem sendo dito, ou essa venda é aquela conversa de “sujou para você, finge que sai para acalmar a turba e depois a gente volta com tudo, fique tranqüilo garantimos o seu?”

Será que tem quem acredite que a Odebrecht usa esquemas diferentes dos usados por Cachoeira?

Não, claro que não usa.
A diferença é de padrão de qualidade na bandidagem. Só isso. Eficiência no quesito corrupção.

O mesmo O GLOBO publica entrevista, edição de sábado, dia 5 de maio, com Andressa Mendonça, mulher de Cachoeira, em que a dita afirma ter sido convidada pela revista PLAYBOY para posar nua e recusou.

Todas as CPIs de maior impacto na opinião pública tiveram esse esquema posto em prática para desviar o foco do principal, a escolha da tal musa da CPI.

Foi assim com a secretária de Marcus Valério, que depois virou candidata a deputada e perdeu.

Se CPI ou não, mas com a mesma dimensão, aquela que rifou um presidente da Câmara – figura tão ridícula que nem dá para lembrar o nome.

Exigia propina dos concessionários de restaurantes na tal “representação popular.” A revista à época andou atrás da mulher do dono do restaurante e antes que ela dissesse não o marido deu o aval. Medo de perder a concessão.

Putz! O GLOBO está impossível com medo de cachoeiras maiores.

Na coluna PANORAMA POLÍTICO, sábado, cinco de maio, está lá que o presidente nacional do PSDB e o líder do partido na Câmara, respectivamente o senador Sérgio Guerra e o deputado Bruno Araújo, pediram ao deputado Carlos Leréia de Goiás, que se licenciasse do partido por conta de suas ligações com Carlos Cachoeira.

Resposta do deputado – Peraí. Deixa eu ver. Vocês querem se livrar de mim porque sou amigo do Cachoeira há trinta anos.
E o deputado Eduardo Azeredo que é réu na Justiça?
E o (senador) Cicero Lucena que foi preso?
E vocês querem expulsar a mim?

O deputado Leréia poderia ter citado o ex-governador José Serra, o senador Aécio Neves, todos dois com “ligações” com Cachoeira. Aécio se esqueceu que nasceu em Minas Gerais (alias, se solto na capital assim no centro, só chega a um destino se de táxi, do contrário não sabe onde está) e disse que nomeou a prima de Cachoeira para um determinado cargo em seu governo “pelas qualificações” da moça.

Essa história toda de Cachoeira tem conexão com a então governador de Brasília José Roberto Arruda, vem de lá também, um punhado de negócios de peso em Brasília, passa pelo caixa dois do PSDB e da campanha presidencial de José Serra (Cachoeira e os demais “cavalheiros” da Távola Redonda da corrupção do capitalismo), aporta na prefeitura de São Paulo, no governo do estado, em Minas nos desvarios de Aécio – o estado está falido e Anastásia foi festejar seu aniversário de 51 anos na Itália –, se espraia pelo Rio de Janeiro de Sérgio Cabral e no fim de tudo o paladino da moral e dos bons costumes é Anthony Garotinho, bandido de quatro costados, isso em falar em Paulo Hartung, o dileto de Cachoeira no Espírito Santo.

VEJA fica fora a despeito das conversas gravadas – legalmente – que indicam as ligações da revista com Cachoeira através do seu diretor Policarpo Júnior.

Matérias com denúncias inventadas para fortalecer o esquema do empresário. Pelo menos até agora os integrantes da CPI não convocaram o dito cujo.

A capa da última edição começa a bombardear Cachoeira e Demóstenes.
Ou um grande acordo por baixo dos panos, ou chumbo trocado não machuca, ou o poder de chantagem da revista sobre o empresário e o senador é maior do que um e outro supunham.

O que é mais provável, já que a mídia de mercado vem como um touro desembestado chifrando tudo que vê pela frente, na defesa da intocabilidade de determinados bandidos, os próprios.

Essa é uma parte da história da semana.

Há outra, tétrica. As Usinas de Açúcar...
Já já, fiquem conosco

As denúncias sobre o uso de usinas de açúcar em Minas e no Rio para a queima de corpos de presos políticos durante o período da ditadura militar e a cândida declaração do coronel Brilhante “Pústula” que “nunca matei ninguém”, tentando desmentir a conversa que o delegado Sérgio Paranhos Fleury foi assassinado pelos próprios aliados, no interesse da segurança da repressão.

Complicado, mas é isso mesmo, segurança da repressão e dos “negócios” óbvio, já que a ditadura militar foi um movimento concebido em Washington e adjacências, com o fito – ainda existe essa palavra? – de manter intocados os “negócios”.

É difícil imaginar uma cachoeira sendo “queimada” numa usina de açúcar em Minas, ou no Rio de Janeiro.
Os tempos são outros, a turma voltou para os porões e paira uma farsa democrática sobre o País.
A despeito dos banqueiros, latifundiários, da FIESP/DASLU das polícias militares, mas paira.

Os “negócios” não. Esses são os mesmos. A guerra entre os “negociantes” é canibalesca. Terminado o festim, os ossos aos cães.

Vamos a um exemplo.

No Estado do Espírito Santo o engenheiro Lauro Koehler desenvolveu o projeto CAMINHOS DO CAMPO destinado a permitir a construção de estradas vicinais a um custo reduzido, beneficiando ponderável parcela da população do estado. Projeto liso, limpo e pronto.

Por volta de 2005 o governador era Paulo Hartung e o secretário da Agricultura o atual senador Ricardo Ferraço, PMDB, então PSDB (foi tesoureiro de campanha).

O projeto foi executado em algumas áreas do estado a partir da Secretaria da Agricultura e o custo era de 600 mil reais, então, para cada estrada se observado o projeto do engenheiro Koehler.

Esse custo cobria cinco quilômetros. Segundo o senador e “tocador” do projeto a DELTA fez treze estradas ao custo de 33 milhões, logo dois milhões e trezentos mil por estrada.

Quase quatro vezes mais o custo previsto no projeto CAMINHOS DO CAMPO. O golpe do material de segunda, custo mais baixo, propina mais larga, lucro maior – O engenheiro aqui citado não tem nada a ver com o secretario Ferraço, hoje senador, pelo menos “até prova em contrário”.

Várias outras foram executadas por empresas diversas e isso é realidade no País inteiro.

Com um detalhe, o senador Ferraço é integrante da CPI do Cachoeira.
Como é que fica?
Bandido apurando fatos criminosos de outro bandido, de um parceiro?

No duro mesmo todo esse rolo tem um nome só, capitalismo.
O modelo da “competitividade”, da “eficiência” e vai por aí afora.

Os telejornais das tevês brasileiras não mostraram uma única imagem dos imensos protestos de primeiro de maio dos trabalhadores nos Estados Unidos e a retomada do movimento Ocupa Wall Street.

Não dão tiro no pé, como agora a mídia de mercado como um todo, no caso Carlos Cachoeira. O azar de Cachoeira é não ter sangue azul como Odebrecht, ou Andrade Gutierrez, ou Queiroz Galvão.

Vai sair chamuscado, pegar um tempo de cadeia (se não aparecer nenhum Gilmar Mendes no meio do caminho), mas garantir uma aposentadoria tranqüila e quem sabe uma volta aos “negócios” por baixo dos panos?

A usina em qualquer versão, cinemascope ou preto e branco, é sempre o capitalismo.
O que varia é a forma da barbárie.

Uns são animalescos, caso de Brilhante Pústula, outros se assentam civilizadamente à volta de uma mesa redonda.

CELSO DANIEL uma outra quadrilha do capitalismo

Fundador do PT, o ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel, foi encontrado morto com oito tiros em uma estrada de Juquitiba, cidade da Região Metropolitana de São Paulo, em 18 de janeiro de 2002.
O corpo dele estava desfigurado.
A maioria dos tiros foram disparados no rosto.

O inquérito sobre a morte do petista determinou o indiciamento de oito pessoas, além de levantar suspeitas sobre políticos hoje de alta patente da política nacional.

Conheça alguns dos personagens principais deste caso, que ganhou repercussão nacional em virtude das suspeitas de corrupção na prefeitura de Santo André.

O empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, um dos principais suspeitos no caso da morte do prefeito de Santo André, Celso Daniel, segundo o Ministério Público.

Sérgio Gomes da Silva
Apelido: Sombra

O empresário é apontado pelo Ministério Público como o suposto mandante da morte de Celso Daniel. No dia do seqüestro do ex-prefeito de Santo André, os dois saíam de uma churrascaria do bairro dos Jardins, zona Sul de São Paulo. Sérgio dirigia a Pajero blindada de Celso Daniel no momento em que foram abordados pelos criminosos que sequestraram o petista.

Em depoimento à Polícia Civil, Gomes conta que perseguiu os criminosos pelas ruas da cidade após o sequestro. Houve troca de tiros e vários deles atingiram o carro que o empresário dirigia.

Para o Ministério Público, no entanto, a perseguição não passou de uma armação para encobrir o crime. Segundo a promotoria, Gomes seria o responsável pela contratação de Dionísio de Aquino Severo, o líder do bando que seqüestrou o ex-prefeito de Santo André.
O empresário e amigo de Celso Daniel teria combinado com os criminosos o caminho que faria naquela noite, informando, inclusive, o calibre das armas que poderiam ser usadas contra o carro sem dano a ele.

A promotoria sustenta que o crime teria sido encomendado depois que Celso Daniel ameaçou denunciar o esquema de corrupção que se apoderou da administração pública de Santo André.

De acordo com o Ministério Público, Sombra seria o elo de ligação com o esquema de corrupção instaurado na administração da cidade. A tese é negada pela Polícia Civil, que concluiu que o assassinato foi um crime comum.

Sérgio Gomes da Silva obteve um habeas corpus e aguarda o julgamento em liberdade desde 2004. Ainda não há data para Sombra ser julgado.

Dionísio de Aquino Severo

Dionísio era considerado pela Polícia o líder da quadrilha que seqüestrou e matou Celso Daniel. O acusado foi preso em 2002, mas conseguiu fugir do presídio de Guarulhos com a ajuda de um helicóptero, numa fuga considerada cinematográfica.

Após ser recapturado em Alagoas, o acusado foi preso no Cadeião de Belém, na Zona Leste, onde foi assassinado dois dias depois da prisão.

Marco Roberto Bispo dos Santos

Marco é acusado de dirigir o carro que sequestrou o ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel

O inquérito sobre a morte apontou que o suspeito foi assassinado porque integrava o CRDB (Comando Revolucionário Democrático Brasileiro), facção criminosa adversária do predominante PCC (Primeiro Comando da Capital), que domina os presídios paulistas. Dionísio era apontado pelo Ministério Público como a pessoa que recrutou os vários envolvidos na morte do ex-prefeito. A morte de Dionísio impediu o indiciamento dele.

Após ficar oito anos preso por suspeita da participação no caso, Marcos Roberto Bispo dos Santos é apontado pela Promotoria como sendo o motorista de um dos três carros que participaram do sequestro do ex-prefeito de Santo André. Após a prisão em 2002, ele confessou à polícia participação no crime.

A confissão aconteceu na sede do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), em São Paulo, e está sendo contestada pela defesa. O advogado de defesa alega que o cliente foi vítima de tortura. Bispo dos Santos foi condenado a 18 anos de prisão pela morte de Celso Daniel, mas continua foragido.

Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira
Apelido: Bozinho

Rodolfo Rodrigo dos Santos Oliveira, o Bozinho, preso em São Paulo em 29/06/2007, acusado de envolvimento na morte do ex-prefeito Celso Daniel, de Santo André

Rodolfo também confessou à Polícia Civil ser um dos executores de Celso Daniel. Em juízo, porém, Bozinho mudou a versão e disse que foi torturado pelos policiais e obrigado a confessar um crime que não cometeu. Em 2006, contudo, Oliveira fugiu da penitenciária de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, e só foi recapturado no ano seguinte.

Na versão do Ministério Público, ele também é apontado como a pessoa que cercou o carro de Celso Daniel e retirou o ex-prefeito do veículo onde estava. Ao fugir da penitenciária em 2006, Bozinho também foi acusado de envolvimento na morte do agente de escolta e vigilância penitenciária Genivaldo Lourenço da Silva, baleado durante a ação.
Oliveira foi apontado também pelo irmão de ser o autor dos disparos.

Rodolfo foi condenado a 18 anos de reclusão e já estava preso. Por ser menor de 21 anos na época do crime, teve um atenuante na pena.

José Edison da Silva
Apelido: Zé Edison

Apontado por dois acusados como o mandante dos disparos contra Celso Daniel, José Edison da Silva, o Zé Edison, ficou preso até abril de 2010. Ele também foi arrolado no inquérito da morte do ex-prefeito de Santo André. O juiz Antonio Augusto Galvão de França Hristov, da 1º Vara Criminal de Itapecerica da Serra, decidiu condená-lo a 20 anos de prisão.

Ivan Rodrigues da Silva, o "Monstro", apontado pela Polícia Civil como o líder da quadrilha que atuava na favela Pantanal e sequestrou e matou Celso Daniel
Em seu interrogatório durante o julgamento, Edison negou conhecer os outros acusados e ter participado do crime.

Disse que estava na Bahia quando Celso Daniel foi morto e também disse que não faz parte do PCC (Primeiro Comando da Capital). “Não é verdade, não sei por que sou acusado”, disse Edison da Silva. Mas não convenceu o juiz.

Ivan Rodrigues da Silva
Apelido: Monstro

O inquérito da Polícia Civil de São Paulo que investigou a morte de Celso Daniel apontou que o assassinato do ex-prefeito foi um crime comum praticado por uma quadrilha que atuava na favela Pantanal, em São Paulo.

Na versão da polícia, a quadrilha era comandada por Ivan Rodrigues da Silva e Itamar Messias dos Santos. A hipótese levantada é que o crime foi cometido por conta de uma suposta tentativa de seqüestro frustrada.

Após descobrirem a identidade real do ex-prefeito, os criminosos teriam assassinado o ex-prefeito.
Em depoimento À CPI dos Bingos, em 2005, “Monstro” afirmou que o ex-prefeito foi seqüestrado por ocupar um carro importado depois da frustrada perseguição a uma Dakota, na mesma noite de 18 de janeiro.

A versão da polícia contradiz a do Ministério Público, que concluiu que o crime foi político. Diz a Promotoria que Celso Daniel foi morto porque discordava do esquema de corrupção instalado na Prefeitura de Santo André. Os desvios estariam servindo não para abastecer o caixa do PT, mas para enriquecer os envolvidos.

Ivan Rodrigues foi condenado a 24 anos de reclusão e já estava preso antes do julgamento.

Elcyd Oliveira Brito
Apelido: John

Segundo o Ministério Público, Elcyd seria o autor de uma carta endereçada ao empresário Sérgio Gomes da Silva, o "Sombra", para cobrar o pagamento de R$ 1 milhão pela morte do prefeito. Preso em 2002 pelo crime, Elcyd fugiu do Centro de Progressão Penitenciária de Pacaembu no dia 4 de agosto de 2010 escalando e pulando os dois alambrados que circundavam a penitenciária, junto com outros dois presos. Elcyd foi preso novamente e aguarda julgamento, previsto para acontecer em agosto de 2012.

Itamar Messias Silva dos Santos
Apelido: Olho de Gato

Itamar, considerado braço-direito de Monstro na quadrilha que matou e sequestrou o ex-prefeito de Santo André, em janeiro de 2002

Considerado braço-direito de Monstro, Itamar trabalhava como office-boy antes de cumprir pena na Cadeia Pública de Diadema até o ano 2000, por furto e porte de drogas. Durante a CPI dos Bingos ele confirmou a tese de crime comum e disse que teria libertado o prefeito de Santo André se soubesse quem ele era. Ele está preso aguardando julgamento.

Laércio dos Santos Nunes
Apelido: Lalo

Com apenas 16 anos na época do crime, Laércio dos Santos Nunes é apontado pela Polícia Civil como um dos autores dos disparos que mataram Celso Daniel. Preso na antiga Febem (hoje Fundação Casa) do Tatuapé na época do crime, ele fugiu da unidade prisional em 2005 e só foi recapturado no ano seguinte, em Taboão da Serra, na Grande São Paulo.

Após ser preso pela primeira vez, o jovem conhecido como “Lalo” confessou o crime e disse que praticou o ato a mando de José Edson da Silva, um dos líderes do seqüestro, por coação.
Amigos ouvintes (FINAL)

Não sei dizer se a vida nos cansa ou se nós é que nos sentimos fadigados às vezes da existência. Nos repetimos sempre. Ou quase. E nos lamentamos desse dia-a-dia onde nos levantamos, trabalhamos, regressamos e descansamos para no dia seguinte recomeçarmos.

Mas é essa a vida e muitos não aceitariam mudança nenhuma se a oportunidade lhes fosse oferta.
Ter que recomeçar alguma coisa abala muita gente, pois mesmo a vida corriqueira e imutável causa segurança.
Conhece-se os caminhos, os atalhos, os desvios, as curvas a serem evitadas.

A consciência de ter que recomeçar é que nos faz sofrer, duvidar, temer. Medimos nossa capacidade e com bastante freqüência... nossa incapacidade! Se não medirmos nada, avançaremos como as crianças avançam nos primeiros passos, titubeantes, mas orgulhosos.

A mente humana é um poderoso instrumento. Ela condiciona, impõe, impede, impele, comanda... mas nem sempre no bom sentido. Ela sente, ressente, guarda as impressões e as marcas que a vida vai fazendo ao longo dos anos. E se pensamos em recomeçar alguma coisa, ela acende a luz vermelha em sinal de atenção.
Assim é que muitos se paralisam e não fazem nada.
Acomodam-se.

Porém, a vida nos impõe recomeços a cada instante e os seguimos com naturalidade, fazemos nossa parte. Somos condicionados e nem nos questionamos.

Me pergunto então por que não nos condicionamos a viver coisas novas, experimentar nem que seja por uma vez ousar. Se é nossa mente que nos comanda e que somos donos de nós, por que não pegarmos as rédeas, o comando?

A vida desabrocha por todos os cantos e precisamos vivê-la. Mas bem vivê-la. Deus nos criou para sermos felizes, não para passarmos os dias perdidos em lamentos sem tomar atitudes.

Avança!

Recomeçar é preciso quando o que temos já não nos satisfaz. E recomeçar é sempre possível quando colocamos de lado as dúvidas, pois perdedor na vida não é quem tentou e não conseguiu, mas sim aquele que abandonou a coragem e perdeu a fé.

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ULTIMA HORA
Operação Monte Carlo atinge lobby parlamentar do amianto: Perillo, Demóstenes e Leréia

O império do amianto está ruindo, a olhos vistos.

Em 13 de fevereiro, a Justiça italiana anunciou a condenação dos ex-proprietários da Eternit, o barão belga Jean-Louis de Cartier de Marchienne e o magnata suíço Stephan Schmidheiny, a 16 anos de prisão e ao pagamento de quase 100 milhões de euros.

Nem mesmo o informe publicitário publicado na ocasião pela Eternit do Brasil nos principais veículos de comunicação (CartaCapital foi a única a recusar o anúncio), negando qualquer relação com a empresa incriminada, diminuiu o amargor da derrota.

Agora, o lobby do amianto sofre novos reveses. Indiretamente, a Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), atingiu em cheio o império do amianto. Seus mais ilustres e ferrenhos defensores no meio político brasileiro são acusados de envolvimento com os esquemas do bicheiro Carlinhos Cachoeira.

São eles o senador Demóstenes Torres (DEM-GO, até 4 de abril), o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PDSB-GO) e o governador Marconi Perillo (PSDB-GO). Os três integram a "bancada da crisotila".

São parlamentares que, em troca de defender a fibra cancerígena no parlamento, recebem apoio financeiro da indústria amiantífera em suas campanhas. Crisotila, ou amianto branco, é o tipo existente e ainda permitido no País.

A primeira baixa, aliás, já ocorreu. Demóstenes Torres deixou a relatoria do projeto de lei 371/2011, do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que "dispõe sobre a proibição da extração, da importação, do transporte, do armazenamento e da industrialização do amianto".

Outro revés: o Instituto Crisotila do Canadá anunciou oficialmente, em 28 de abril deste ano, o encerramento de suas atividades. Durante quase três décadas, ele coordenou globalmente os esforços da indústria do amianto para promover o chamado "uso controlado da crisotila".

Uma tese enganosa de que a exploração do mineral, assim como a fabricação e a utilização de produtos, contendo suas fibras, seriam inofensivos à saúde humana. O instituto canadense foi copiado em todo o mundo. Aqui, deu origem ao Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC), sediado em Goiânia.

"São dois golpes mortais, que prenunciam o fim da produção da fibra assassina aqui", observa a engenheira Fernanda Giannasi, auditora fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e coordenadora da Rede Virtual-Cidadã para o Banimento do Amianto para a América Latina. "É como diz o ditado popular `a Justiça tarda, mas não falha'."

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que, anualmente, 107 mil pessoas morrem em todo o mundo devido a doenças causadas pelo amianto ou asbesto – um reconhecido cancerígeno para os seres humanos.

"Todo tipo de amianto — inclusive a crisotila — é comprovadamente cancerígeno, e o seu uso controlado, uma ilusão total", alerta o pneumologista Hermano Albuquerque de Castro, professor da Escola Nacional de Saúde Pública e pesquisador do Centro de Estudos da Saúde do Trabalhador e Ecologia Humana, da Fiocruz, no Rio de Janeiro. "No máximo, as indústrias conseguem reduzir a exposição dentro das fábricas. Não conseguem controlar depois que o produto sai e vai para o público. Isso é impossível."

Apesar de essa advertência ser feita há mais de duas décadas, o governo brasileiro ignorou o problema. E mais. Nos últimos anos, perdeu diversas oportunidades de proibir o uso do amianto no território nacional.

Em boa parte devido ao poderoso lobby no Congresso Nacional, que sempre agiu com presteza para atender os interesses da indústria amiantífera.

Demonstração emblemática dessa força aconteceu em setembro de 2008. Havia indícios de que o Supremo Tribunal Federal (STF) iria julgar celeremente a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 4066, que pede a decretação da inconstitucionalidade do artigo 2º da Lei 9055/95; ela trata do "uso seguro e responsável do amianto".

"A Lei 9055 é inconstitucional em função da lesividade de todo tipo de amianto à saúde humana", diz o advogado Mauro Menezes, que, na ação, representa a Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea) "Ela não se compatibiliza com uma questão maior que está garantida na nossa Constituição, que é o direito à saúde e à vida."

Pois bem, à época, o então senador Marconi Perillo e o colega Demóstenes Torres intermediaram encontro de representantes da Eternit com o ministro Gilmar Mendes (naquele momento, presidente do STF) para tratar do assunto.

Assim, no dia 30 de setembro de 2008, o presidente do Grupo Eternit, Élio Martins, o diretor-geral da SAMA, Rubens Rela Filho, Perillo e o deputado federal Carlos Alberto Leréia (PSDB, GO) foram recebidos no STF por Gilmar Mendes.
O Grupo Eternit é o maior produtor de amianto e de artefatos de cimento-amianto do Brasil. A mineradora SAMA pertence a ele. É a responsável pela mina de Cana Brava, a única ainda em exploração no País; fica em Minaçu, norte de Goiás, a 500 quilômetros da capital Goiânia.

Leréia, proveniente de Minaçu, foi um dos maiores beneficiados pelas verbas da SAMA em sua campanha como deputado federal. Segundo matéria publicada na revista CartaCapital, de junho de 2005, recebeu sozinho 300 mil reais da mineradora.

Gilmar Mendes recebe em audiência os senadores Marconi Perillo (PSDB-GO) e Demóstenes Torres (DEM-GO)

Sobre o encontro, o site do STF noticiou: "O senador goiano Marconi Perillo (PSDB) esteve com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, para entregar documentos contra o banimento do amianto crisotila no país.

`Temos estudos científicos que foram preparados pelas principais universidades brasileiras que nos tranquilizam em relação à utilização do amianto sem qualquer mal à saúde', afirmou." Parêntese: o Viomundo denunciou em várias reportagens a falta de isenção dos pesquisadores de "tais estudos científicos", financiados pelo próprio interessado em tais resultados.

O site do STF prosseguiu: "Segundo o senador, o objetivo dos documentos é `dar esclarecimentos e embasamento aos ministros do Supremo Tribunal Federal em relação à matéria'".

Curiosamente, o nome do presidente do grupo Eternit, presente ao encontro, não constou da matéria publicada no site do STF.

Tampouco o nome de Élio Martins apareceu nas legendas das fotos divulgadas sobre a reunião. Nem mesmo na que apareceu cumprimentando Gilmar Mendes. Mencionaram-se apenas os nomes dos parlamentares.

"Na prática, a Operação Monte Carlo acertou o core do lobby do amianto no Brasil" reforça Fernanda Giannasi. "Da mesma forma, com certeza, o fechamento do Instituto Crisotila do Canadá terá repercussões no Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC) e nos demais institutos clones, que perdem seu mentor e grande financiador e apoiador."

O IBC (também chamado de Crisotila Brasil) foi criado à imagem e semelhança do Instituto Canadense do Crisotila (antes chamado Asbestos Institute).

Até no estilo de tentar silenciar os que denunciam os malefícios do amianto e as ações do lobby pró-fibra cancerígena são muito parecidos.

O IBC recorreu à Justiça contra Fernanda Giannasi, o procurador Antônio Carlos Cavalcante Rodrigues, do Ministério Público do Trabalho de Goiás (MPT-GO), que queria, entre outras ações, o fim das atividades do IBC, e o pneumologista, professor e pesquisador Hermano Albuquerque de Castro.

O Instituto Crisotila do Canadá teve o desplante de atuar fora de sua jurisdição. Em abril de 2001, o seu diretor, Denis Hamel, mandou uma carta ao então Ministro do Trabalho e Emprego do Brasil, Francisco Dornelles, pedindo para repreender e enquadrar a engenheira Fernanda Giannasi. Não conseguiu o seu intento.

No documentário A morte lenta pelo amianto, Hamel justifica a retaliação: "Ela [Fernanda Giannasi] dá declarações mentirosas, exageradas, que prejudicam enormemente os esforços da indústria".

Consequentemente, o fechamento das portas do Instituto Crisotila do Canadá representa uma derrota importantíssima de um dos lobbies mais eficientes na promoção de produtos tóxicos no mundo, só comparável ao do tabaco. Não é à toa que é festejado globalmente.

"Essa é mais uma auspiciosa notícia, que nos anima a multiplicar esforços para a concretização do banimento do amianto em nosso país, o quanto antes", afirma o advogado Mauro Menezes. "Afinal, a entidade que tanto promoveu a falaciosa tese de que a crisotila seria inofensiva à saúde humana, contava com apoio do governo canadense e coordenava um poderoso lobby, modelo que inspirou a criação do Instituto Brasileiro do Crisotila."

"Sinaliza um passo importante para o fim da exploração e exportação do amianto pelo Canadá", saúda Linda Reinstein, presidente da Asbestos Disease Awareness Organization (ADAO), ONG estadunidense que se dedica à conscientização das doenças do amianto. "Simboliza um futuro promissor para o esforço global de proteger a saúde pública."

Para Pat Martin, membro do Parlamento canadense, ex-mineiro e crítico de longa do data da indústria do amianto, o fechamento do Instituto do Crisotila do Canadá é a sentença de morte da mineração do amianto naquele país.

Kathleen Ruff, ativista canadense dos direitos humanos e pelo banimento do amianto, fez questão de ir até o escritório do Instituto do Crisotila para se certificar de que a informação era verdadeira. As portas da sala 1.640 estavam fechadas; nem mensagem para deixar recado na secretária eletrônica havia mais.

"O Instituto Crisotila pressionou o governo canadense para que ele continuasse financiando-o como fez durante 27 anos, do contrário, fecharia as portas", conta Kathleen Ruff. "Devido à fortes críticas, o governo não cedeu. E, agora, uma alegria toma conta de todos aqueles que lutam para proteger as pessoas dos perigos do amianto."

Laurie Kazan-Allen, editora do site e coordenadora do Ibas — International Ban Asbetos Secretariat(Secretariado Internacional do Banimento do Amianto) –, sediado em Londres, Inglaterra, ao comemorar a queda do Instituto Crisotila, põe o dedo na ferida:

"Mesmo depois de o amianto ter sido proibido em países industrializados, o seu consumo aumentou muito em todo o mundo em desenvolvimento. Isso aconteceu graças principalmente aos esforços e à contribuição financeira do Instituto do Crisotila do Canadá, que permitiu a criação de 12 entidades ao redor do mundo, para transmitir de forma mais eficaz a mensagem pró-amianto. Não por coincidência o uso do amianto continua na Índia, Tailândia, Brasil, Colômbia e México, países onde existem estas organizações".

"Indubitavelmente, o império do amianto está desabando", arremata Fernanda Giannasi. "Esperamos, agora, que se faça Justiça às vítimas do amianto e seus familiares."

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